segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

"onze dias"

autor: Yan Chaparro
obra: "onze dia" (foto do terceiro dia)
ano:2008
texto:
morre, agora é empecilho, ou era antes? fica imóvel, ou se move mais que antes? é estado de dizer, grita mesmo, ironiza o lugar onde morreu, toma vida depois de uma fotografia, quando é inventado um sentido de vida depois de sua morte, significa o desprezo, a melodia sarcástica e nostálgica de progredir.
o gato esta na rua, estático, enfrente de uma loja de carros, ao lado do templo comercial dos nossos gostos, dias e prazeres. o gato sorri, não não, é o dente dele esmagado no chão. e tudo passa.
o gato insinua algo, lembra que já foi amigo de alguém, dele mesmo talvez, e que não tem nada ver se os animais sem pelo (quase), constroem e constroem, falam e falam, e se masturbam por causa do tal crescimento, progresso, desenvolvimento. o que o gato diria? não sei, não deu tempo para ele falar, mas ele sorriu.
o impacto foi grande, ouvi o barulho, depois de mais cinco carros passarem pelo mesmo gato (por que não procuraram outros?), parei, fiquei do lado dele, e resolvi tirar um foto, acho que o sorriso dele me atraiu, a ironia estava estampada (a morte era a vida do asfalto). e por Onze dias, as 11:00 da manhã, fui até este gato e tirava uma foto do mesmo ângulo. então o gato durou onze dias pós morte, estando vivo para o asfalto. pergunto será que o asfalto chorou pelo gato, eles eram tão íntimos.
move, se move, e é movido... o gato esta assim, por um ato de assassinato ele diz, fala que alguma coisa não esta legal na tal cidade, deste imaginário que movimenta a cidade na latência de desejos engraçados.
as vezes fico imaginando que ele se suicidou, não foi morto, mas ele quis se jogar no para choque daquele carro, pois não agüentava mais viver, estava cheio destes benefícios bancários que chamamos de vida. talvez ele estava bêbado, talvez ele era um artista, talvez estava fugindo de uma briga, ou talvez tinha acabado um relacionamento e sofria pela amada.
o gato se foi, mas penso que ele agora esta mais vivo, onze dias, eita gato forte, depois de morrer durou mais onze dias, sou fã deste gato, morreu por uma causa política, histórica, cultural, ambiental, do amor. será que este gato era um extremista, um radical, de esquerda, que lutava contra os carros? também não sei disso.
depois disso caminhei pela cidade constatando, como investigador criminal, e espiritualista também, quantos outros companheiros deste havia na cidade, e quando encontrava, parava esperava a noite, e colocava uma cruz ao lado dele, não que eu seja católico, nem creio em deus, mas foi um sinal de respeito que arrumei para dizer, mas quando no outro dia eu passava por lá, a cruzes tinham sumido, mas os gatos estavam lá, sei lá, vai saber pensavam que a cruz era macumba (talvez era). e tenho fotos que comprovam isso, e uma testemunha que tirava as fotos. acompanhei esta missão deles que ainda continua, e aos poucos fui percebendo que não era só gatos, mas pássaros também, cachorros, quatis, e outros, então hoje imagino quase certamente, que os animais possuem um grupo extremista, muito bem embasado teoricamente e com uma pratica radical (de suicídio), que se matam como expressão de questionar, indagar, e mandar se foder este outro animal (ser humano), e seus adereços fálicos (os carros, motos e outros).
hoje tenho quase certeza que este gato fazia parte deste grupo, que era um militante dos onze dias, um estudioso da questão ambiental (da cidade, do cotidiano, da subjetividade e da violência). um dia encontro este gato, pois sei que ele olhou para mim antes do seu ato, talvez por isso eu o percebi.

(Yan Leite Chaparro, 13.02.09)

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