quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Triunfo


O cd vem num envelope feito a mão com a arte carimbada de um lado e do outro a lista das 25 músicas da mixtape (gravada em cd-r) entitulado “Pra quem já mordeu um cachorro por comida até que cheguei longe“. O trabalho manufaturado do Emicida mc paulistano de 21 anos pode de cara até parecer amador, mas o fato é que de mão em mão já foram distribuídas mais de duas mil cópias, dois reais pegando da mão do artista e cinco via correio. A experiência já tinha sido testada por ele um ano atrás quando disponibilizou 300 cópias de seu single Triunfo o qual ganhou recentemente um clipe. O grande destaque nas batalhas de improviso deram a Leandro a alcunha de Emicida, aquele que “assassina“ mcs (logo se tornou uma sigla E.M.I.C.I.D.A. – Enquanto Minha Imaginação Compuser Insanidades Domino a Arte), videos de seus duelos ajudaram a difundir seu nome, hoje no Youtube.com encontra-se várias amostras de seu domínio sobre adversários, alguns vídeos com mais de 200.000 acessos. Então chegamos a um ponto interessante do mundo do rap: improvisar x compor. Muitos não conseguem conciliar as duas coisas ou não conseguem provar que sabem fazer as duas coisas. Uma outra questão interessante de se ver aqui é que são poucos os mcs conhecidos pelo improviso que sentem a necessidade de registrar algo. Nesse caso o trunfo do Emicida são as 25 faixas vendidas a singelos 2 reais. Não vou mentir dizendo que se tratam de 25 boas faixas, mas posso assegurar que 15 delas estão bem acima da média. As participações ficaram mais nas produções dos beats e nos instrumentos tocados, nas rimas os únicos participantes foram Rashid e Criolo Doido economicamente registrados no mesmo samba-rap sobre a tal cerimônia do freestyle. O conteúdo das letras passam por diversos temas bem conhecidos dentro do gênero. Rua, bairrismo, amizade, problemas sociais, o rap em si, relacionamentos… o interessante é que pelas perspectivas de Emicida o deixa próximo de ser o elo que faltava entre a velha e nova escola. Nem tão sensacionalista quanto Racionais nem tão acadêmico quanto Mzuri Sana. É claro o abismo entre geração que batucava lata na estação de metrô São Bento e a geração que tem a internet como uma das mais fortes fontes de informação. O Emicida consegue ser um fenômeno da internet e mesmo assim transpirar a essência da rua. Coisa de poucos...