sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Makaveli

[...]
Um Lugar pra eu passar minhas noites sozinho
pra relaxar
há muita pressão na vida que levo
As vezes choro
Já pensei em me suicidar e tentei
Mas quando peguei na arma, eu pude ver os olhos de minha mãe
Ninguém sabe da minha batalha, só vêem os problemas que causo
É difícil viver quando ninguém te ama
Me imaginem em meio a pobreza e miséria
Eu e meus amigos não tivemos outra escolha se não caminhar
[...]
Em cada canto, cada cidade
Existe um lugar onde a vida é mais fácil
Uma champagne bem gelada pra relaxar
A qualquer hora , porque é muito bom
Esqueça as ruas do mundo la fora
Tudo que é errado vira certo
Nada além da paz , amor das ruas
Todo o gueto precisa de uma Thug Mansion
[...]
Querida mãe não chore
Seu filhinho está bem
Diga a todos eu estou no céu e aqui não tem bairros
Vi um show com Marvin Gaye noite passada
Fiquei emocionado
Tomando um drink com Jackie Wilson e Sam Cook
Depois de uma moça chamada Billie Holiday cantou
Fiquei conversando com Malcom até o dia raiar

...

Não sei se esse trecho que recortei dá pra passar a idéia da letra de Thugz Mansion então vou resumir a letra em poucas palavras. A música fala das dificuldades vividas pelo músico e faz ele imaginar como seria o céu de pessoas como ele e termina com ele falando como se estivesse lá.

A carreira de Amaru Shakur (Tupac) durou apenas 5 anos. Fez amigos, nesse período, mas nunca exitou em os transformar em inimigos. Numa dessas brigas dividiu os EUA ao meio. Notorious e os nova-iorquinos não vendiam e nem pisavam na costa oeste enquanto Pac e os californianos não íam para costa leste. A maior briga da história da música. 

Tupac era filho de uma ex-pantera negra, que fugia de sua história para sustentar os filhos e tentava oferecer a eles coisas que o gueto não ensinava. Lembro agora de uma parte de um documentário sobre a sua vida onde Tupac fala que via a discrepância do que aprendia na escola de artes e o que encontrava em sua vizinhança.

Sua carreira foi rápida mas bem intensa. Lançou livros de poesia, alguns são até adotados pelas escolas norte-americanas (tem um poema onde ele fala de uma rosa em meio ao concreto que é foda), lançou vários albuns, passou seis meses preso ouvindo seus inimigos o queimando e ficou esperando a hora de responder na música como fazia habitualmente, conseguia trazer a intensidade de sua fúria nas letras, ouvir Hit 'em Up é como se sentir na briga, ter a mesma raiva de um amigo traido. Foi alvo de acusações, tido como reflexo da podridão escondida por seu país. Na primeira vez que foi baleado entendeu que cada dia não é só um a mais, passou a escrever e gravar compulsivamente. Quando não se livrou da morte deixou um vasto material inédito que até hoje, 10 anos depois continua sendo publicado.

Solução? Ninguém achou quem o matou nem que apagou Notorious um ano depois. Só uma coisa é certa, verdadeiros nesse jogo dispostos a morrer por ele dificilmente será encontrado nas próximas safras. Não que tenham que morrer, eles perdem com isso e os ouvintes também.

A letra de cima faz parte de sua discografia póstuma, que já alcança mais de 10 albuns. Tem gente que acredita que eles está vivo em algum lugar, eu prefiro acreditar que foi mais uma expressão...


Onde vamos quando morremos?

Qual

Haveria apenas de ser amado, não desdobrado
De bico calado, quase disfarçado, recalcado pelo erro
Sabe-se lá o que aprisiona, que parece cicatriz, esta ali e não some
São as chaves do calabouço, que esmaecem a fragrância
Bobagens de esperanças achando entender
O que não se pode saber é o futuro!

carta de despedida

na verdade, hoje, como vários outros dias que já se passaram, a vontade era que como se um grão de areia, fosse levado pra longe... para não dar respostas e nem criar expectativas...

Por onde passa os urubus???



Então, o urubu voa, plaina em um ar, e faz do seu sustento este próprio ar, e quando come, se saboreia com algum resto de coisa, que há um tempo estava viva. Uma coisa me incomoda, ao assistir o filme “Cinema, Aspirinas e Urubus”.
Deparo-me com a presença desta ave, ou melhor, com a significação humana da mesma, Urubu que se mostra em duas ocasiões, a primeira no momento em que um prefeito (coronel moderno), bate nas costas de um sujeito que fazia a sombra de um pássaro em um pano com a luz refletida, e no segundo momento quando o nordestino e o alemão estão na estação ferroviária, no meio de pessoas (nordestinas), que vão embarcar em uma viaje conhecida como dos soldados da borracha.
Sendo assim o incomodo toma forma de reflexão (isso é bom), e esta ave inicia a se movimentar pelo sentido da sua existência recebendo novo nome, o de poder. Pergunto-me que ar é este que este poder se sustenta, e de que carniça ele se saboreia? Talvez o ar seja o entre, quando dois corpos se comunicam traçando o desenho contornado e preenchido pelo poder, não um poder que esta lá fora, mas esta ao lado, corta a pele de que o vivencia e o sustenta, sendo assim este urubu plaina para mirar uma carne podre ou um lugar para descansar, no poder que vai modulando as relações na arte do cotidiano, tirando proveito de “mordomia”, quando se sustenta no poder.
E a carniça parece que são os corpos podres, que morrem aos poucos desgastados pelo sol, o vento, e a solidão, na insegurança ao serem violentados a cada dia por sentidos em que este urubu se sustenta, o poder, construído, mas não muito enxergado. A carne a cada dia que se deteriora se torna mais saborosa, como alimento necessário para a vivencia do urubu no mundo.
Então após assistido o filme “Cinema, Aspirinas e Urubus”, os urubu, tomam estas duas formas de contextualização significativa, quando aparece junto a alguém do cotidiano “humilde”, revela um composto perverso, quando as relações de poderes o sustentam no ar, e quando aparece voado, o urubu já esta voando, esperando uma carne podre, de um alguém que morreu, de tanto tentar viver, espera a carne, e dá ordem para outros corpos entrarem, e outros caminharem para qualquer lugar.

Yan Chaparro – 24/10/2008

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Renascença


Não vejo como abrir de outra forma de começar esse texto se não dizendo que esse que se esconde atrás da mpc é uma das minhas maiores referências na música. O disco tem aquela mordidinha do A Tribe no jazz, mas segue a linha dançante de seus albuns solo. The Renaissance traz colaborações de Norah Jones, D'Angelo, Amanda Diva e Raphael Saadiq. O legado de Dilla também representa em algumas faixas como no caso de "Getting up" (faixa essa que tá quebrando as pernas de muitos superstars pops lá fora). Enfim, meu vício atual, disco que esperei um tempão, torci que caísse na net antes do tempo, tá rodando sem fim no meu som.  

*Não vou disponibilizar o album desta vez, mas deixo aqui o video de Getting Up


Abs!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O que foi e é isso???


Por esses dias me pergunto o que foi isso??? e o que é isso hoje???
Será que foi um surto do cotidiano em artes... a possibilidade de inventar memoria, imaginarios e posições... amigos que se formaram ainda mais como proximos...
Hoje revi as fotos do dia... é muito bom...
Abraços às Águas que vivem...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O Fosso...




Pois o fosso permanece ausente, fica como uma historia com o semblante de um marasmo estancado na veia sarcástica de um local precisamente belo, como sorriso irônico, de mãos que não encontram o seu entendimento, e a banalidade podre esta como norma.
O fosso do filme “Saneamento Básico o Filme”, remete a um cansaço, quando se assiste o próprio, sensação que parece estar de propósito, como incomodo enjoativo, que lembra o cotidiano melancólico, quando as coisas não acontecem, a obra do fosso que fede é esquecia.
O filme se revela como uma grande piada, regido por uma ironia explícita, já conhecida pelo diretor no seu curta metragem “Ilhas das Flores”. No final do filme tudo parece que melhorou no sentido pálido (gravidez, revista, sexo com a primeira dama), e a merda que fede do fosso ainda se mostra viva, cautelosamente ri daqueles que a permitem ali.
O Joaquim pede fogo à um garoto, este o entrega, Joaquim acende seu cigarro preocupado com a estréia do filme “O Mostro do Fosso”, mas começa a ouvir varias risadas, se levanta, joga o cigarro no chão, vai para dentro de uma espécie de salão-igreja, e ali vê o publico rindo da comédia que ajudou a produzir. Ao ver esta cena, duas coisas me chamam a atenção, a primeira é que o publico que ri, é o publico que esta assistindo o próprio “Saneamento Básico o Filme”, que ri como seres patéticos, quando se esquecem do cheiro de merda do fosso do seu cotidiano, e a segunda é que o filme feito no próprio filme (como meta linguagem), é um retrato do próprio filme “Saneamento Básico o Filme”.
Monstro do fosso não é tão diferente de saneamento básico. Um ponto importante do filme, é que o cansaço sentido, lembra as estratégias de ficar parado no cotidiano de lugares em que a violência esta em cada ação contra um coletivo, ações que esquece de problemáticas fundamentais para o caminhar social, e quando as conseqüências de jogos de poder se torna norma a social.


texto de Yan Chaparro – 23/10/2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Entre Manguetown e Kalakuta


Fela Anikulapo Ransome Kuti é uma viagem no mínimo cabulosa. Nigeriano, filho de uma feminista atuante no movimento anti-colonial com um pastor diga-se de passagem, o primeiro presidente da União Nigeriana de Professores. Fela Kuti saiu de seu país para se tornar médico e voltou músico, revolucionário no que nomeou como Afrobeat. A soma de jazz, funk e música africana não foi o suficiente para eternizar. Adicionou Anikulapo (Aquele que traz a morte no bolso) em seu nome já que segundo ele, Ransome era nome de escravo. Foi odiado pelo governo nigeriano, preso por ter engolido um baseado e estragado a chance do poder o ridicularizar, eles exigiram a mostra de fezes, mas odiado de um lado... alguns presidiários deram o cocô para ele sair ileso mais uma vez. Casou-se com 12 mulheres de uma vez protestando contra o catolicismo imposto e se separou tempos depois dizendo que casamento causa muito ciúmes. Montou seu próprio partido político, se candidatou a presidente...há mil fatos que rodeiam o mito, mas não é preciso saber nada disso. O link está aí, faça o download, faça o play e me diz depois se o som não arrepia. 

Shit!!!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Racional Superior


As mais fantásticas produções que Sebastião Rodrigues Maia, o próprio criador renegou. Não adiantou ele abandonar a seita, quebrar os discos restantes nem pronunciar horrores e dizer que se sentia envergonhado de ter feito, é o seu maior legado. Só recentemente a família Maia liberou a remasterização de seu primeiro volume (diga-se de passagem, quem não tem o seu tá perdendo, o cd roda duas vezes, uma em sua versão digital e outra na analógica com o delicioso chiado do disco, além dos textos que foram impressos na contra-capa do lp) relançado pela gravadora Trama que ainda mandou um disco de remixes medianos (boa nota só pra Parteum). Esse ano para os já enlouqueciam com os dois volumes tiveram mais uma alegria. A lenda do terceiro volume é real, existe mesmo, e suas faixas cruas caíram na rede (hey Kassin, não vai dar mais pra se promover em cima do mestre). Sem mais delongas...





E pra liquidar a fatura...



Fui!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Liberdade...

Foto: Yan Chaparro

Estar livre como um pássaro morto dentro de uma gaiola com portas abertas, como cada passo num real de ilusões, do riso sarcástico da segurança, como um menino que corre de outros, e no instante veloz, se apóia em uma parede (insólita, de outros), e o choro se mistura com a risada úmida. E percebo que aquele poder que destrói não esta em cima, se move e se constrói no entre, eu, ele e tu.

A liberdade se disfarça com a morte, ou como um sorriso frágil e engraçado, porque a graça é tragédia. As sombras contornam um outro não distante, também sou eu, ou um espelho atemporal, outro que posiciona sua estética cotidiana a minha frente, como o som de um piano, ao ser tocado por alguém que não fala.

O instante do menino paralisa o dia, como naqueles momentos que a latência de algo se mostra, algo que aqui é liberdade, no cotidiano urbano. Talvez a liberdade seja a mais falsa das palavras, mesmo reconhecendo que ela tem seus limites. A densidade se confunde com a delicadeza, o áspero no sentido distrai para a volta do caminhar, como movimento de náusea, talvez por não voltar. Que termina como sorriso de olhos fechados.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Prelúdio



Desculpem! Mas tenho que compartilhar com alguém. Se gosto ou não, prefiro dizer depois do dia 28 quando o sai o disco. O fato é que os dois singles do The Knux mistura na minha cabeça a fase Beat It de Michael Jackson e o bom começo do Outkast. É a mesma coisa, mas não é a mesma coisa, em uma época onde quase tudo parece ser a mesma coisa... de tempos em tempos aparece algo no mínimo interessante.

domingo, 5 de outubro de 2008

Dia cinza

"I could listen to his album for the rest of my life" - Madlib

Incrível como um músico desse nível teve um intervalo de 35 anos entre seu primeiro e segundo disco. Violonista e compositor, Arthur Verocai trabalhou nesse tempo com Quarteto em Cy, Jorge Ben, Ivan Lins, Marcos Valle e vários outros. Seu primeiro disco lançado em 1972 impressiona pelos arranjos bem atuais. Não é a toa que serve de influência para vários produtores de hoje. Seu segundo disco mantém o peso da pedrada e ainda traz parcerias com Azimuth e Ivan Lins. 




...