segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Condutor


Que timming. O texto da semana passada quase foi sobre Otis Jackson. Mc/produtor/beatmaker/multi-instrumentista além de outras coisas… mil projetos, promíscuo musicalmente, só nesse ano já fez parceria com um integrante de uma famosa banda de Acid-jazz brasileira e acaba de soltar um novo disco. Pra tentar ilustrar melhor vem a minha cabeça seus trabalhos com J. Dilla e MF Doom além dos seus trabalhos integrando um quinteto que só tem ele de integrante e o alter-ego de voz eletronicamente alterada e rimas existenciais. Era época de cursinho quando procurava algo novo dentro do que já conhecia, sua invasão na Blue Note entrou na minha cabeça como quando ouvi Illmatic do Nas ou Samba Esquema Novo do Jorge. De lá pra cá seja nas suas excursões pela música Indiana, no rap, funk, jazz, produzindo para alheios… eu tenho acompanhado de perto como faz um nerd com gadgets ou a próxima saga sonhada por Frank Miller. Enfim, hoje abro um dos sites de rotina e lá está esta pedrada nova. Nem ouvi ainda, mas podem ir na fé…


?

Suspiro Irônico

Foto: Yan Chaparro

O suspiro acontece no instante urbano, entre carros, ônibus, pessoas e empregos, a ironia obedece ao sutil, ao delicado embebecido da fragilidade cotidiana. Confundido ao mundo que o envolve, é parte deste, da forma, do conteúdo que este mesmo espalha em seu olhar a cima.

O invisível contesta, revela a latência, o imaginário, uma subjetividade que acontece no ato de construir, e de ser construído, em meio de entranhas, linhas e sangue. O cheiro no teto lembra o livre, mesmo que a liberdade aconteça na fala enganosa do hoje, mas faz de planta, fios e cimento, o aparato de novas realidades, do hibridismo não tão novo.

Ao suspirar a ironia se move como semblante nostálgico de simplicidade, dá significado ao fato pouco visto, mas muito vivido no reclame do dia. Acontece que a ironia não é negável, se mostra como insegurança, vaidade e medo, e o suspiro é o se alimentar com ar, na tentativa de apreender o sobreviver, quando a urbanidade obedece ao receio, como superfície de engano, frágil.


sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Tyger

O curta de animação Tyger mistura fantoche, ilustração, fotografia e computação gráfica, baseado no poema de William Blake. Dirigido pelo brasileiro Guilherme Marcondes, esse curta já foi premiado diversas vezes e é um dos favoritos de Neil Gaiman (o criador a graphic novel Sandman). O cenário é a caótica cidade de São Paulo onde o autor quis retratar a relação da cidade com a floresta e das pessoas com os animais, ressaltando as maravilhas junto com o medo do progresso.


...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Como é pisar uma concha no espaço?



Abordando a ausência e presença de gravidade no corpo, Isadora.ORB: a metáfora final, proporciona momentos de suspensão. Já na primeira cena, Andreia Jabor deitada com as pernas para o alto e sob o silêncio pleno da atmosfera do teatro Prosa, realiza movimentos de pêndulo que fazem com o que o público sinta a gravidade zero atuar sobre seus corpos. Nem um suspiro se ouve neste momento (que dura cerca de 5 minutos).

E não é apenas no silêncio que o espetáculo se desenrola. A trilha é composta por clássicos como Pink Floid e Mutantes e é manejada no palco pela bailarina e Dj Andreia Jabor. Além disso, os artistas interagem diretamente com o público, conversando e contando a “fantástica” história (ou fábula?) do menino Rick que sonha em levar artistas para o espaço.

Seu sonho quase vira realidade. Inesperadamente o então designer e pesquisador Ricardo Seabra (em 2000) tem seu projeto de criação de um módulo espacial para abrigar artistas no espaço (o módulo Isadora), para ser apresentado em um econtro mundial da NASA, no México. E daí por diante inicia-se uma extensa reflexão.

Uma reflexão que discute as fronteiras entre a arte e a ciência, a sabedoria do acaso e do domínio. A proposta de se explorar o espaço não apenas pelas ciências exatas e biológicas, mas também pelas humanas e pelas artes, segue uma linha política. Deseja-se o reconhecimento das áreas de conhecimento ainda vistas como perfumaria. “Como que vão investir $10 milhões de dólares para levar um artista ao espaço, se não há como prever o que ele vai trazer como produto artístico de lá?” A resposta segue infiltrando-se entre as armaduras da ciência - em tentativas de dominar certos aspectos da realidade - e o simples acaso.

Dentre projeções de desenhos criados por Rick em cena, através de seu retroprojetor analógico, solos interpretados por Andreia e a interação entre essas duas realidades, o espetáculo traz um cheiro e um conforto de infância, porque revela, na verdade, coisas simples: brincadeiras, jogos, medo da solidão e fantasias escondidas no cotidiano.

Depois de lidar com as forças gravitacionais ondulantes do palco, saí de meu assento pisando o chão sentido-o tão concreto quanto uma concha no espaço.


Obs: A apresentação vivenciada pela autora se realizou no Teatro Prosa - Campo Grande, nos dias 16 e 17 de agosto de 2008.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sujeito...

Foto: Yan Chaparro

Ao caminhar possibilita formas ao mundo (cotidiano), no constante diálogo de densidade, ramificado a indagação da simplicidade e do estado de se diluir (em e entre coisas-sujeitos). O riso é irônico na apropriação do passo ao asfalto, quando as linhas que demarcam leis são substituídas somente por passagem.

A solidão é força, imposição de si ao mundo, quando contesta o passo, quando se move no delicado que por insegurança se mostra áspero. A força contrai quando expande o olhar para céu, do céu caminha no chão, não por vergonha, mas desejo de estar.

Até parece corrosivo o semblante deste outro, na ferida que é composta a cada dia, como carne pálida. A solidão permite espaço de amplidão, do fenômeno denso e sutil, não da espera, mas do ato do caminho (Aufhebung), quando percebe, se dilui e se compõe. Uma barreira se mostra como suposição, como riso, como sátira, como passo.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Turn it Up!

Eu não vou falar muito. Esse plano aqui termina, outro se inicia. Não conheço um só ser que entende ou aceita bem a transição. James Yancey mudou a direção das produções da música do meio dos anos 90 até aqui e ponto final. É lógico que ele não o fez sozinho, mas acreditem que secretamente de Neptunes à Dr. Dre, de Jimmy Jam à Radiohead, todo mundo sabia do som de um certo MC/Produtor de Detroit que fazia o baixo ditar o andamento das canções, que construia os beats sem quantizar tudo no grid, como o computador mandava. Que colecionava discos de Sérgio Mendes...que com Q-Tip e Ali formou o time de produção The Ummah ( Irmandade ) quando a idéia inexistia no meio, que estava doente, mas mesmo assim veio ao Brasil para participar de um show com o Madlib. Infelizmente seu estado agravou e ele teve de voltar mais cedo. Pouco tempo depois partiu, mas não sem antes deixar algumas pérolas que muitos juram que mudaram suas vidas...

Download: Donuts

*Segue também a homenagem feita pelo bateirista Pupillo (Nação Zumbi) e dos djs Nuts e Primo durante o Brasilintime.


Para compreender melhor indico duas músicas: Stan Getz e Luiz Bonfá com Saudade vem correndo; e The Pharcyde com Runnin'

Rest in beats Dilla
...o mesmo para Issac Heyes.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Até Jazz....

Quem diria que música e poesia nunca iriam caminhar totalmente juntas?? Antigamente se diziam que letras eram poesias, e poesias eram obras literárias, e literatura não tinha nada a ver com a arte musical, por isso os antigos jazzístas tocavam apenas suas músicas instrumentais sem a melodia da voz...

E a músca? Por que muitos não encaram como uma grande arte? Como um grande mistério, onde muitos estudiosos instrumentistas e maestros se desdobram para descobrir os mais misteriosos sons, intervalos e escalas produzidas pelos intrumentos?
Poucos encaram a sua própria música do ''próprio'' jeito que faz, e os muitos que não encaram sua ''própria'' música, se preocupam em agradar os ouvidos de leigos, que acham que tem um senso de música tão grande que podem sair criticando qualquer músico por ai....
E assim vai, aos poucos a arte caminha, nos sons, imagens, danças, na literatura em tudo! O que nunca pode acontecer é nós, ''poucos'' deixarmos a arte parar!


Nosso Trio - Paca Tatu, Cotia Não
Bireli Lagrene e Sylvain Luc - Isn't She Lovely
Bireli Lagrene - Blues Clair
Ximo Tebar - Puré de Patata
John Coltrane - Giant Steps
“Chão dos ausentes“ Edson Castro - 62 x 73 cm - pez sobre tubox - 2007

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Fantasia d'outrora.

Que mundo de verdade?
Aquele! Que passa diante dos olhos e que poucos vêem.
Mas que bela ironia não?! Ou será fantasia?
É um belo retrado, de tão mal tratado que é.
Ser animal, racional, de coerência duvidosa.
Mal se olha, e muito menos ao lado.
Será que percebe? Que nada impede!

Carpal Tunnel Syndrome


Kid Koala é integrante do selo britânico Ninja Tune, totalmente direcionado à produtores interessados em timbres bizarros. No caso desse canadense, o ronco de uma pessoa dormindo, o sample de desenhos animados ou até o som do trompete de um músico bebado são musicadas. Além do som incomum que faz ele também ilustra a capa de seus discos e cria quadrinhos em seus encartes. A produção é toda eletrônica, mas bem distante do bate estaca, lembrando até algumas composições cabeçudas da Bjork que por sinal é uma de suas referências.

E pra finalizar...


Adeus!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

suspiro de costume...

Ensaiando a vida, de forma única e profunda.
Sonâmbulo dos sentidos, movimentos e inquietudes do pensar.
E assim não para, e nem rala deve ser.
"Corpo quente,
insuficiente as vezes."

só ser humano. só ser-humano.

De súbito vem o aperto. Duro. duro. É mais um dos nós. E parece que não vai afrouxar nunca mais na vida. As gentes acham que a hora ruim nunca vai passar mesmo... Dá chilique, pisoteia, tem sapituca. Até reza! Sente a angúsita pressionar as veias com gosto. Gostoso. Tem vontade de gritar, berrar, cuspir, bater a cabeça, socar a cabeceira. Morder a própria carne. Tudo normal, absolutamente anormal. Isso é ser gente, ser humano. Ser humano com hífen sem hífen. Sem mistério nem segredo. Pensar é sofrer. Sentir é sofrer. Sentir é pensar. Mas o contrário nem sempre é. E depois que passa? ah! acha graça. Isso se se lembrar que passou. Gente é trânsito. Todo o tempo. Nada anormal nisso. Nada normal nisso. Carne e osso. Muita carne. Pele, muita pele. Bom se sentir gente às vezes. (Suspiro) Nervos, muito nervo! Carne, osso, pele. Sangue, muito sangue. e quente. Sentir a quentura. Frieza às vezes. Mas só às vezes.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

"Que o corpo desabe,
entre os braços,
em meio traços e laços
de uma amizade sincera."

Werther Fioravanti

Sobre o Cuidado...

Foto: Yan Chaparro

No estalo de um instante o suspiro de calma encontra meu corpo, cada sentido é preenchido por uma calma engraçada, talvez daquela esperança ainda rala e sem graça, que as vezes aparece como ironia diante da fragilidade dos laços e vínculos cotidiano.


O cuidado aparece em meio da latência incomoda, do urbano, de carros, ruas, placas e falas. Então a curiosa banalidade e flutuação de passos que desencontram do chão, parece cedido a uma imagem de transe, da calma que lembra o aspecto estético de saudade, quando o cuidado se move no olhar saudoso e simples (profundo) de uma criança, que me diz - Calma...


Um cuidado que se move como fenômeno de se envolver, de encontro, de habitar. Quando a responsabilidade com o outro se mostra como alteridade necessária, se possível espontânea. O outro que cuida e é cuidado traça passos em uma vivência de existir aqui, na possibilidade de um outro que passa por si, que permite o diálogo.


E se acaso, descaso?

Como se vê,
em seus lábios de saudade,
a vontade que invade,
é aquela que impede.

E os sussurros mal ouvidos,
calados de tesão,
em latência da situação,
se espremem em curtos passos.

E que tal devaneio,
sempre entre a razão e o desejo,
que repele qualquer sossego,
pelo medo e preconceito.

E que nada seja,
apenas apareça,
de forma singela,
mal acabada como já era!

Werther Fioravanti

Na sombra, vendo poeira!

"Coloque a vela acesa,
sobre a mesa,
para que apague
como coisas no tempo."
Werther Fioravanti

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Saudações..


“Acaba logo!”, exclamaram os olhos angustiados da mulher ao olhar em silêncio a barata, assustada no chão do seu quarto.


Mas a vida nunca acaba.


Em vez de minutos, conta-se a vida em anos, e ano é uma unidade muito extensa.

A vontade dela era de que a vida fosse como um espetáculo que rápido acaba, dando a sensação de eternidade, e que não precisa fazer o público voltar para reafirmar o que queria ter dito.


(Se bem que para um espetáculo passa-se uma vida ensaiando)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ethio-jazz


Bem, música é a parte que me cabe nesse latifúndio.
Sendo assim resolvi abrir os caminhos com um nome de classe: Mulatu Astatke. Esse etiope é praticamente o único habitante do mundo que ele mesmo criou. Influenciado pelo jazz e música latina Mulatu transformou a música tradicional Etíope. O resultado é o Ethio-jazz, som que tem o balanço da salsa, do jazz e do funk em um clima que lembra ritmos orientais. 

E pra fritar a cabeça legal, deixo também um video do encontro entre Mulatu e The Heliocentrics (psicodelia essa que explico mais pra frente)


Tá bom?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Uma fala sobre o cotidiano



Uma cruz e um pássaro, uma via que leva e traz pessoas e seus carros, historias narradas por fenômenos comuns, de estar em uma mesma realidade, mesmo que a combustão imaginaria abstraia o comum, para o não visto. Passo pela via, vejo dois pássaros, um caído, e outro ao lado dele, numa espécie de despedida, velando o outro. Imagem que me incomoda, volto a casa, faço uma cruz, pego uma tinta branca, e procuro expressar o assassinato ali.

O estado trágico se mostra como um assassinato em silencio, quando um ser vivo é morto na decorrência de uma urbanização de brutalidade, quando o ambiente é visto fora do humano que o habita, sendo não sensível, e não apropriado como lugar de vivência dialógica.

O pássaro se desintegra a cada instante, como carne cotidiana que aparece desintegrada no ato de acordar e dormir. Talvez este pássaro diga sobre o estado trágico vivido em instantes urbanos, quando a natureza e o cinza cimentado, aparecem como conjunto hbrido de violência, um fenômeno sutil e subjetivo no cotidiano vivido.