"o cubo"
A imagem se aproxima de cada sentido atento para aquilo que remete a si e ao outro, a composição estética de algo que se move, que no contato com a atmosfera do que o envolve, permite sentidos lógicos, diacrônicos, dedutivos, que abre questionamentos, ao mesmo tempo que ao falar de um algo preciso, já impreciso por estar no mundo.
A imagem é de um objeto cubo, que esta no palco, e compõe uma proposta de não somente objeto cênico, mas de instalação, esta que com sua forma-conteúdo, é esquema estético, como uma artimanha de estar no palco, falar e sair.
Este objeto exibe-se como estado que engana, pois sua composição de forma, lembra algo estático, e também lembra algo que se movimenta, sendo assim, ele engana por estar ali somente, e exige para quem olha, indagar-se em relação ao um movimento próprio dele, que fecha, aprisiona e incomoda.
O engano do cubo é fundamental para entender o incomodo de uma peça simbólica (bailarina), em relação a este, pois a lógica de vontades, desejos e racionalidades, é ensaiada do resumo de uma relação delicada do objeto, com esta bailarina, e os outros (as) bailarinos (as) no palco.
Ao ver o cudo obedecendo cada encontro no palco, é possível estender uma conversa com ele, na tentativa de saber mais sobre este objeto, este elemento que acontece por si, e pela relação com os outros, ou melhor, pela composição do “entre” no entrelace de signos, na formação de um tecido em movimento no palco.
Mas porque este objeto como algo imaginado? Talvez pelo fato de que ele é lembrado sempre no instante em que a bailarina (dele, com ele), exibe um encontro, lembra dele ali, uma lembrança fantasiosa, pois somente para ela aquele quadrado exibe um significado de repressão, uma construção imaginativa que a aprisiona, os outros reconhecem a existência do quadrado, não olha, talvez por medo, ou por exigência de construí-lo, pois eles sabem que também são elementos concretos que posiciona o quadrado ali, mas este posicionamento acontece pela relação imaginativa que um símbolo constrói ao quadrado. Chego lembrar do posicionamento esquizóide de Deleuze e Guattari, quando discute o sujeito na sociedade capitalista.
Por que este objeto não é quebrado? Que força ele tem?
Quando lembro deste objeto, como fenômeno imaginado, ao mesmo instante lembro que são cinco bailarinos (as), um que significa a linha de dor que passa por todo o espetáculo, e os outros quatro (três poderes e a que esta com o cubo) que compõe, permite vida e movimento ao objeto, e no final tudo parece se reduzir no e ao objeto, nas confluências de poder. Este é um espetáculo que desvenda constituições criticas intermináveis, talvez por isso que esta vivo há um bom tempo. Mas pergunto que dor é esta? Quem constrói esta dor? E o que pode ser feito desta dor?
Para terminar este texto, que são apreciações iniciais sobre este objeto no espetáculo “Cultura Bovina?”, lembro que a composição do poder nas aparelhagens interligadas sociais (como sistema), se forma e se movimenta no “entre”, não esta em um ou no outro, mas no entre as forças do cotidiano, e é alimentada neste entre, no diálogo constante de forças, desejos e crenças.
Talvez o cubo já esta sendo quebrado, por uma margem particular, uma inversão da hierarquias de poder, como uma possível voz, uma outra posição que não respeita, resiste e joga.
(Yan Leite Chaparro, 12.03.2009)