terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Algum Pássaro

Foto: Yan Chaparro

Estava observando um ninho de João de Barro em um poste, este que é suporte para correntes de energia de um bairro parecido com o lugar em que moro. Como uma menina chamada Luiza me disse “você sabe lidar com o acaso”, e mais uma vez este acaso, ou olhar de simples sensibilidade, me leva a absorção de um instante, o retrato da construção por quatro elementos, que diz um pouco sobre o estado contemporâneo urbano.
O ninho deste pássaro é cortado por um som que não era canto, mas barulho de velocidade, e quando volto a observar este ninho, percebo que um avião passa por cima deste ninho, e neste instante percebo a genialidade deste momento, e a foto acontece como composição de estabelecer uma poética-científica (se isto existe), discussão, da necessidade de compreender de uma imagem, a pulsão e a fala direta da complexidade cotidiana, minha e de outros, que não são tão outros.
A ironia se move como euforia e também como sentimento de um entendimento rápido. O ninho que vejo é habitat de um pássaro, os cabos de ação são alimento para a velocidade de um lugar, e o avião lá encima (não tão), é objeto simbólico de uma velocidade quase instantânea de um lugar para o outro.
Três lugares distintos, que trazem no seu dizer inicial ao mundo, a fala de ser um estado de estar (lugar). Avião, ninho e cabos de energia. Não sei se isto é um encontro dialógico, como na poética de Buber, ou uma articulação complexa e violenta de Guattari ou Bhabha, que diz sobre uma latência de incerteza, quando as formas de estar com um e outro, recebe o nome de organização, mantida por posições e falas de poder. Então quais são as novas subjetividades que se movimentam hoje?
O ninho esta ali por uma evolução da natureza. O avião e os cabos estão ali por uma evolução da tão dita tecnologia. Afirmações indigestas para uns e não para outros. Mas me lembro que o significado de evolução, não esta ligado a desenvolvimento, um é ato de somente caminhar, ficando uns e morrendo outros, e o outro é o processo de olhar o mundo, e tentar uma organização de estar vivo, e vida do agora, e sentir a existência de um depois.
Penso que o encontro e a articulação (densa) destas evoluções ou desenvolvimentos, diz sobre esta ordem complexa que o passo dos seres que existem no mundo se encontra. Quando estes quatro (pois existe o céu) elementos (significados) se resvalam na historicidade do hoje, estabelecem um movimento sentido na carne-espírito do sujeito urbano que tenta entender e se mover neste emaranhado de tempo.
Com este texto não trago respostas. Quero somente que a foto, junto a estes dizeres, permita indagações sobre o movimento das coisas no mundo urbano, às novas paisagens, os novos lugares, e sobre a invenção de um cotidiano que a cada dia traz um estado de ser narrado, mantido pelo não saber inda como (como será esta nova forma – conteúdo do dia).
(Yan Leite Chaparro – 20.01.09)

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Yan....!
Tinha mais um elemento nessa história toda, o observador, que de pouca estatura, mas de grande olhar.
Abraços!!!