segunda-feira, 27 de julho de 2009

movimento de vertigem - 24.07.09

foto: "instante"
2008


Meus olhos ainda lembram a proximidade com o chão daquela manhã, meu corpo ficou dias dolorido, mas sentia que tinha comigo um troféu, aquele esparadrapo encima do meu olho ficava como uniforme de aventura, junto com minha regata do Mikey.
Eu corri e corri, precisava chegar primeiro em casa, meus obstáculos eram duas ruas inclinadas que davam em casa, e meu chinelo que estava arrebentado. Eu tinha seis anos, e corrida era contra eu mesmo, ou melhor, o campeonato de corrida que imaginava. Meu corpo se comportava como de um atleta desengonçado, meu peito inclinado, minhas mãos que ganhava o ar, e minha boca que pronunciava um narração eufórica da vitoria, que ainda não sabia ser minha, tinham dois na minha frente.
Sozinho para quem me via de fora, e entre muitos e uma mata fechada para quem me via de dentro, corria desesperado, não sabendo se falava ou respirava. Estava perto da esquina, no meio de percurso, já avistava minha casa na outra esquina. Acelero o passo, e a imagem da minha casa é trocada pelo do asfalto. Meu chinelo arrebenta de vez, sou traído pelo meu equipamento de corrida. Lembro que fiquei parado olhando o horizonte entre o asfalto e minha casa. Pensei “estou em uma corrida, não posso parar”. Todos os outros corredores passam na minha frente.
Eu levantei joguei meu chinelo fora, e descalço caminhei até minha casa. O sangue escorria na minha cara, o corte foi profundo. Cheguei em casa e fui recebido pela minha mãe, ela olhou assustada e eu ri, estava feliz por completar a prova, ainda mais sangrando, tinha as coisas que meu time o Corinthians tinha também, pelo menos era o que meu pai dizia, e eu só acreditava, ele era meu pai.
Minha mãe desesperada venho em minha direção, quando ela encostou no meu supercílio, voltei a realidade, uma puta dor se apossou da minha cabeça, então chorei e chorei, minha camiseta esta cheio de sangue (para mim era cheio), sentei no chão, minha cachorra nina, uma vira-lata, veio, acho que tentando me ajudar. E me levaram direto para o posto de saúde do bairro. Levei seis pontos, gazes e esparadrapo faziam parte do rosto agora, era bonito e feio, heróico e dolorido. Tenho uma foto comigo, com o esparadrapo e a camiseta do Mikey, comendo melancia com mão (sempre gostei disso), e um sorrido de lembrança vem até meu rosto com 24 anos hoje.
Passando cinco anos, meu irmão também cortou o supercílio, no meu lado do rosto, com seis pontos, com seis anos. Mas dele, uma gangorra o acertou. Deve ser coisa de família isso.

Encontro



Hoje,

Dia do contato!

Da referência de viver e ser vivido,

apenas para sentir o prazer de estar presente!

E, assim, de corpo e alma se encontram.

Masturbam-se em sintonia do acaso,

sangue da mesma carne.

Retornam, então, ao lar inconsciente,

constante da ausência daquilo que faz e não faz falta.

Descaso de um passado entregue ao destino.

A cada recomeço inesperado resolvem,

envolvem e dissolvem a carência permanente.

Carinhos de abraço, ausentes do descaso,

com forte apego beijam a pele, entregam-se.

Nada se perde, tudo se encontra!

E percebem, ao pouco que segue,

que viva!... não adormeça!

Diante da fraqueza,

supere, entregue de pura beleza a verdade.

Mesmo que apenas uma vez! Uma única! Seja!

(werther fioravanti, 2009)

domingo, 26 de julho de 2009

Wave

Homenagem ao Tom Jobim maior compositor da música (não só) brasileira. No video dj Pg (Elo da Corrente/Mamelo Sound), Máquinado (grupo captaneado por Lúcio Maia da Nação Zumbi) e Danilo Caymmi. Video exibido pelo programa Mosaicos Musicais da tv Cultura.


Sujo!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

filho de Goethe

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loucura!
essa alma cantando se rola em lágrimas,
mal entende o emaranhado de emoções e confusões presentes.
atordoa o corpo!
a pele trêmula,
cheia de marcas.
confusa alma,
interpretada por um espírito louco,
sem controle!
divide em partes tantas dúvidas
que já delas não tem respostas.
se perde pobre ser apaixonado,
filho de Goethe.
controle, não se conhece mais.
atordoado, pilhado em gestos, corpo suado, jogado.
carma desse nome?
o que se faz? sem vontade, sem cor?
o eixo de tudo se vai.
aonde vai? volta!
alma atordoada, não suporta tanta distância,
já havia falado.
e ainda tem o que é mal resolvido.
adiado talvez, quem sabe.
pobre alma,
com tanto e tão pouco.
intensa vontade de enlouquecer,
necessidade!? talvez.
controle remoto sem pilha,
antena caída, sem sinal...
a tela cinza, sem vida,
chia e chia!
mais uma noite se foi.
o açucar pela manhã já não é mais o mesmo,
entrou formiga.
densa intensidade de sentimentos
presentes da falta que faz!
precisa de uma voz,
só uma, só dela,
apenas ela!

Werther Fioravanti , 2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A música é a arma


"Fela nasce em 1938, na cidade iorubá de Abeoukuta (Nigéria), mesma cidade de nascimento do escritor nigeriano Wole Soynka, prêmio Nobel de Literatura em 1986. Vindo de uma família de intelectuais de classe média, com quase todos os seus irmãos formados em medicina, Fela parte para Londres em 1958 com o mesmo intuito, o de estudar medicina. No entanto, com pouco tempo de estadia em território britânico, percebe que o seu interesse era definitivamente outro; acaba estudando música e forma uma banda que misturava jazz, soul e algumas variantes de ritmos africanos. Daí em diante, a arma de Fela passa ser realmente a música. Porém, ele só terá a consciência profunda disso depois de sua turnê pelos EUA, em 1969, onde ele passa dez meses e acaba tendo contato direto com o movimento dos Panteras Negras."

Este é um trecho da resenha feita pelo jornalista Bruno Tasso, sobre o documentário "a música é a arma" que fala sobre a vida de Fela Kuti. Vale a pena dar uma lida, até para instigar a procurar mais coisas sobre ele (clique aqui).
Ouvi algumas músicas dele aos conselhos do Chico. Havia gostado, mas não sabia da história da vida dessa pessoa que produzia aqueles estímulos sonoros. Genial!!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

(...)

Não estava bom. Mas não sabia o que era bom. Nem haveria história se estivesse. Ele sabia que faltava alguma coisa, mas aparentemente não se importava. Era um tal de acordar atrasado, correr até o ponto da esquina e pegar a condução lotada de pessoas como ele. Sem terem muita certeza de que era daquilo que gostariam para suas vidas. O semblante entregava a interrogação de cada um. O clima de navio negreiro faz com que se deseje que o dia chegue logo ao fim. E ainda estamos falando da primeira cena. O cheiro de café e as caras de sono seriam os próximos sinais de que alguma coisa estava errada. Mas nada se fala, passa-se a régua em tudo que ficou pra trás e se perde entre papéis, números e letras. Com tantas bocas para alimentar, não há tempo para pensar no que falta, tem que se preocupar no que falta para o trabalho ser entregue no prazo. Nesse instânte o cigarro faz com que tenha tempo pra respirar. Faz sentido. Os dois ponteiros apontam para o céu. Sinal que temos uma hora para a segunda parte. A comida de hoje tem o mesmo gosto da comida de ontem que tem o mesmo gosto… de quê? Não tem tempero. A tarde promete ser ilusoriamente mais tranquila que a manhã, o que não se termina hoje se deixa para amanhã. A pressa é aparente, só tem ansiedade para abrir aquele incrível e-mail sobre o nada. Que neste cubiculo parece bem real. Horas mais tarde, no caminho de volta o corpo pesa, a preocupação muda de cenário. O que era crise mundial se transforma na compra do mês. Com o semblante mais pesado ele faz o caminho inverso. Em casa toma banho, janta, arrisca brincar com as crianças, lembra que na vida que se leva não há mais espaço para imaginar outra realidade. Pé no chão, bunda no sofá, controle na mão. Nem dá pra dizer onde a cabeça está. Se é que está. Não estando mais tão entusiasmado assim, dá um beijo na patroa e deita na cama. Falta ainda alguma coisa.